A segunda conferência do dia – e terceira do VII Congresso –
foi ministrada pelo Pe. Anibal Gil Lopes*. Sua reflexão pautou-se sobre as
diferenças entre o discurso científico e o discurso da fé, que se distinguem
pelo modo como lidam com as realidades observáveis. Em meio às divergências insuperáveis,
ambos têm seu ponto comum na atestação de que nem tudo o que não fora ou não
pode ser observável pode ser tido como inexistente – como era o caso do mundo
microscópico, desconhecido por um longo tempo da história humana, mas sempre presente
e atuante no mundo.
Ele lembrou que há 13 anos, em 18 de setembro de 1998, era
publicada a Fides et Ratio. A partir dela, poder-se-ia
dizer que tanto a ciência quanto a religião lidam com a contemplação. Uma dirige
sua contemplação para fora, e a outra para o interior, ainda que a manifestação
divina se encontre extra
nos; a ciência
se dedica a analisar as coisas criadas, e a fé se dedica a buscar seu Autor.
Pe. Aníbal lembrou das dificuldades de dialogar a partir
desses dois paradigmas, o que é similar ao diálogo entre as religiões – sempre exigente
e complicado, mesmo entre as crenças monoteístas. Para um diálogo produtivo,
que respeita tanto a identidade quanto a alteridade, é necessário o correto uso
da razão, o que promove tanto uma fé esclarecida quanto uma ciência lúcida.
O grande problema para o diálogo entre as ciências e a
religião diria respeito à prepotência, que mina as condições para um encontro
sadio, baseado na tolerância e na reciprocidade. E, para os cristãos, o
antídoto para a prepotência não seria uma fé embotada, mas uma vida interior de
qualidade – a qual não é necessariamente proporcional ao estudo teológico.
Após sua reflexão, a platéia dirigiu algumas questões ao
palestrante.
* Médico livre-docente pela USP, pós-doutor
pela Yale University e Professor Titular do Instituto de
Biofísica Carlos Chagas Filho. Membro da Pontifícia
Academia Pró-Vita, da comissão de pesquisa em seres humanos do ICB-USP, e
assessor de bioética da CNBB. Membro Correspondente Estrangeiro da
Classe de Ciências da Academia de Ciências de Lisboa desde 2008.